«Quando acabou de falar, disse a Simão:”faze-te ao largo; e
vós lançai as redes para a pesca”. Simão respondeu: “Mestre, trabalhámos
durante toda a noite e nada apanhámos, mas porque Tu o dizes, lançarei as
redes”» (Lucas 5, 4).
Aquele
barco, o barco que se tornou altar. Em Lampedusa, um pedaço de terra no mar,
onde homens aceitam, sofrendo, outros homens, do mar. Porque não é fácil ser
bom, quando a terra, as tendas e o pão são poucos para todos. E quando os
outros te deixam sozinho a fazer o bem. Tanto não são eles que abrem
casas, encontram cobertores, água potável, que limpam por onde passam milhares
de homens. Não é matéria para as cançonetas: «acrescente um lugar à mesa, que
há um amigo a mais». Aqui já não há lugar nem para as mesas.
Mas
aquele barco permanecerá na memória, assim como o homem de branco, em pé, com
uma cruz de madeira nas mãos da cor desbotada dos barcos, dois peixes
desenhados nos braços onde estão os pregos, um coração no centro, que se
aperta diante de tanta dor, de tantas necessidades que contêm os olhos
que aquela cruz tem diante de si; um pequeno coração vermelho, o coração de
Jesus. O coração menino, que sabe chorar, que Francisco pede que tenhamos.
Porque os homens devem ser pescados onde se perdem. Na indiferença
onde afogam, na indiferença onde morrem. Qual será a pesca daquele barco?
Ninguém o pode saber. Mas entretanto mais uma vez alguém lançou as redes
sobre a sua palavra.
Eugenio Mazzarella
Texto: L’Osservatore Romano