quarta-feira, 10 de julho de 2013

UMA CRUZ DE CORES DESBOTADAS DOS BARCOS

«Quando acabou de falar, disse a Simão:”faze-te ao largo; e vós lançai as redes para a pesca”. Simão respondeu: “Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos, mas porque Tu o dizes, lançarei as redes”» (Lucas 5, 4).
Aquele barco, o barco que se tornou altar. Em Lampedusa, um pedaço de terra no mar, onde homens aceitam, sofrendo, outros homens, do mar. Porque não é fácil ser bom, quando a terra, as tendas e o pão são poucos  para todos. E quando os outros te deixam sozinho a fazer o bem. Tanto não são  eles que abrem casas, encontram cobertores, água potável, que limpam por onde passam milhares de homens. Não é matéria para as cançonetas: «acrescente um lugar à mesa, que há um amigo a mais». Aqui já não há lugar nem para as mesas.
Mas aquele barco permanecerá na memória, assim como o homem de branco, em pé, com uma cruz de madeira nas mãos da cor desbotada dos barcos, dois peixes desenhados nos braços onde estão os pregos, um coração no centro, que se aperta  diante de tanta dor, de tantas necessidades que contêm os olhos que aquela cruz tem diante de si; um pequeno coração vermelho, o coração de Jesus. O coração menino, que sabe chorar, que Francisco pede que tenhamos. Porque os homens devem ser  pescados onde se perdem. Na indiferença onde  afogam, na indiferença onde morrem. Qual será a pesca daquele barco? Ninguém o pode saber. Mas entretanto mais uma vez alguém lançou as redes  sobre a sua palavra.

Eugenio Mazzarella