Travamos conhecimento quando passou
a estudar em nosso seminário, vindo da Ordem dos Agostinianos e passando para a
Arquidiocese de Maringá. Jovem talentoso, logo se destacou nos estudos,
prenunciando um futuro promissor, como Sacerdote. Passado o período de
formação, iniciou sua vida sacerdotal com grande zelo apostólico, granjeando o
amor de seus paroquianos. Como nosso Tribunal necessitasse de ajuda e vendo
seus conhecimentos, pedimos que fosse orientador dos Libelos (as petições
iniciais de nulidade matrimonial), trabalho esse que desincumbiu com grande
dedicação, melhorando o conteúdo dos mesmos e facilitando o estabelecimento dos
capítulos de nulidade matrimonial.
Percebendo seu amor pelas ciências
jurídicas, pedimos a Dom Anuar Battisti – Arcebispo Metropolitano de Maringá –
que destinasse o Pe. Thelmo ao mestrado em Direito Canônico, em Londrina
(extensão do Instituto Superior de Direito Canônico do Rio de Janeiro), tendo
iniciado seus estudos jurídicos, em 2009 e concluído os créditos exigidos, em
2011, ao final do qual prestou o exame “De Universo Iure” (que qualifica o
mestrando para a elaboração da Dissertação de Mestrado). Importante se faz
ressaltar que obteve uma avaliação que lhe valeu muitos elogios.
Outro aspecto importante merece ser
registrado. Iniciada a formação jurídica, vendo os seus talentos, pedimos a
Roma a “Dispensa de Titulação”, para que ele pudesse desempenhar a ofício de
Defensor do Vínculo e Promotor de Justiça de nosso Tribunal, no que fomos
atendidos, posto que houvesse certa carência de pessoal, para o bom
funcionamento do mesmo. Nessa função, o Pe. Thelmo, realmente, demonstrou seu
grande talento, apresentando em seus pareceres argúcia, sensibilidade e grande
ciência teológica e jurídica, arrancando louvores do Tribunal de Segunda
Instância, de Londrina.
Se não bastasse seu trabalho como
Pároco de Iguatemi, o pesado ônus das funções do Tribunal e a preparação para o
Mestrado, Pe. Thelmo foi acumulando inúmeros ministérios pastorais, tais como uma
capelania e assessorias de pastorais e movimentos que lhe tomavam tal quantia
de tempo que não lhe sobrava quase nenhum para seu descanso pessoal,
trazendo-lhe sérias consequências para sua saúde física e psíquica.
Acrescentamos a isso tudo, dois fatos de notável significado que demonstraram
seu alto grau de desprendimento e espírito de sacrifício: o esmero com que
cuidou do Pe. Reginaldo Lima, quando da doença que o levou à morte e a
assistência cotidiana a Dom Jaime Luiz Coelho, nosso Primeiro Arcebispo. Nesses
dois fatos pudemos avaliar como o Pe. Thelmo vivenciava aquele dito do Senhor: “Assim
como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Todos hão de conhecer que
sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”.
Consequentemente, toda essa
atividade cobrou-lhe um pesado tributo, posto que lhe consumisse as forças,
deixando em seu corpo as marcas do desgaste físico e mental. Várias vezes -
como amigo e irmão mais velho no Sacerdócio – pedi-lhe que deixasse alguns de
seus afazeres, para que não viesse a sofrer revezes irreversíveis em sua saúde.
Mas ele sempre me dizia que precisava de um tempo, para deixar tudo em ordem,
para não prejudicar pessoas que haviam confiado nele ou para conseguir alguém
que o substituísse, nalgum de seus afazeres. Preocupado com seu bem-estar,
deixei-o fora dos turnos judicantes do Tribunal, até que elaborasse sua
Dissertação do Mestrado, a qual ele já começara a preparar. E tudo parecia
estar caminhando para um desfecho favorável...
Ao final do Ano Judiciário de 2912,
fizemos uma confraternização, nas dependências de nosso Tribunal, felizes por
concluir uma etapa considerável de nossas lides, a serviço da Justiça
Eclesiástica, e o Pe. Thelmo lá esteve, com seu fino senso de humor, que se
manifestava, mesmo que seu semblante revelasse o cansaço que ainda aflorava,
revelando que não se desvencilhara de seus demasiados compromissos. Rezamos uma
Santa Missa de agradecimento e fomos almoçar. No local do almoço, conversamos
alegremente, tendo ele anunciado que, no dia seguinte, iria a Londrina para
fazer mais uma etapa da pesquisa que daria andamento à sua dissertação de
Mestrado em Direito Canônico.
No dia seguinte, dirigiu-se à
biblioteca do curso, fez sua pesquisa e, ao final do dia, quis voltar a
Maringá, pois, como sempre, um compromisso o aguardava... E a fatalidade o
colheu, em pleno vigor de sua vida sacerdotal, deixando desconsolados, sua
família – especialmente seus pais, pois era filho único - seus
irmãos no Sacerdócio, seus paroquianos que o amavam e respeitavam, seus amigos
e todos aqueles que usufruíam de seus inúmeros serviços pastorais. Enfim, foi
uma perda enorme para o nosso Tribunal que já perdera anteriormente a
colaboração do Pe. Pedro Canísio Dapper, do Pe. Reginaldo Lima e, agora, do Pe.
Thelmo, os três exercendo o ofício de Defensor do Vínculo, acumulando, os dois
últimos, o de Promotor de Justiça.
Entender tudo isso? Impossível, pois
os desígnios de Deus são insondáveis... Cabe-nos, entretanto, acolher tais
acontecimentos com fé, na firme esperança de que,
“se morrermos com Cristo, estamos convictos
de que, também,
viveremos com Ele, pois sabemos que Cristo,
depois de ressurgir dos mortos já não torna a morrer: a morte não tem mais
domínio sobre Ele” (Rm 6, 8-9).
Resta-nos, então, dizer como São Paulo:
“Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor
Jesus Cristo, Pai das misericórdias e deus de toda consolação, que nos consola
em todas as nossas tribulações” (2 Cor 1,3-4).
Pe. Thelmo descanse em Paz!
Mons.
Marcos Aurélio Ramalho Leite
Vigário
Judicial